A célebre colunista da Folha de São Paulo, Danuza Leão, é
conhecida entre os livreiros principalmente pelo sucesso de vendas de seus
livros sobre etiqueta social.
“Na Sala Com Danuza” lançado ainda no tempo da editora
Siciliano frequentou a lista de Mais Vendidos por meses. Seu lançamento mais recente “É tudo Tão
Simples”, pela editora Agir, também mereceu do seu público leitor uma nova vida
na lista mais desejada dos autores.
Mas a colunista especialista em como se comportar no
ambiente social, cometeu uma gafe proporcional à sua fama quando num artigo publicado no dia
25 de Novembro reclamou que não há mais graça em viajar para Paris ou Nova
York, quando até o porteiro do prédio pode fazer o mesmo.
Não vou nem me dedicar a comentar o quanto
acho desprezível esse comportamento de certas pessoas endinheiradas que não se
conformam com as mudanças sociais ocorridas no país nos últimos 10 anos.
A razão de mencionar este caso aqui é o paralelo que faço
desta visão elitista de gente que se julga muito superior aos demais e não
aceita sequer imaginar que o Zé Povinho possa frequentar os mesmos ambientes
segregados que criaram para si, com o comportamento de alguns colegas,
vendedores de livros, livreiros em geral com este novo consumidor que está entrando nas livrarias em busca de livros desta nova onda de consumo de literatura
erótica ou de grandes best-sellers que aparecem de uma hora para outra.
Tenho visto (lido, para ser mais exato) muita gente
reclamando que as pessoas estão comprando livros de autoras tais como E.L.
James ou Silvia Day e nunca leram Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Nélida Piñon ou outros autores tidos como aceitáveis por
este raciocínio “pseudo-Intelectual”.
Já vi este filme antes, a mesma bobagem quando Harry Potter
estourou de vendas e tinha gente reclamando que as crianças deviam ler Monteiro
Lobato ou Mark Twain. Vamos deixar uma coisa esclarecida, uma coisa não elimina
outra. As maravilhas da leitura das Reinações de Narizinho não são ofuscadas
pelas aventuras em Hogwarts e um ponto que nós vendedores de livros não devemos
nunca perder de vista é que a despeito de nossas opiniões e gostos pessoais,
temos que buscar dentro de nossa atuação agir de forma que a experiência de
seleção e compra de um livro seja uma atividade prazerosa para aquele que “ousa”
adentrar no ambiente “apartado” que uma livraria pode parecer para aqueles que
não têm habito de compra e leitura de livros e, que graças aos serviços,
informações e atendimento que somos capazes de oferecer ao ”leitor-cliente-
comprador de livros” estimulemos esta pessoa a repetir mais e mais vezes este
ato.
Para o mercado de livros, é indispensável que haja sempre
livros com características de block busters como estes casos já citados. É
preciso que sempre haja algum tipo de livro que convide para entrar na livraria
um público que não é seu frequentador contumaz e que, ao fazê-lo para comprar um
livro do Pe. Marcelo, ou a biografia do Edir Macedo ou qualquer outro título
que não seja aceita pelo conceito de “grandes obras da literatura”, irrigue com
suas compras o caixa das livrarias e editoras, para que estas possam continuar
investindo na comercialização de livros que não tem o mesmo apelo popular, mas
que são fundamentais para a construção da bibliodiversidade de uma sociedade
plural e democrática.
Os profissionais que atendem o cliente no balcão de uma
livraria e que tem este tipo de percepção da ”inferioridade intelectual” daqueles
que não leem os títulos que ele acha merecedores de leitura, podem até pensar
que não deixam esta impressão passar para o cliente, mas posso garantir-lhes,
estão completamente enganados. Este público sabe muito bem perceber quando é
tratado com descaso.
Já temos dificuldades estruturais gigantes para superar no
mercado brasileiro para criarmos mais leitores, preço alto, pequeno número de
pontos de vendas e vários outros que costumo citar aqui neste blog, se
deixarmos para os novos leitores a impressão que estão sendo desprezados pelas
suas escolhas literárias, ai sim estamos cometendo uma estupidez gigante, aliás,
como todo preconceito, uma burrice sem fim. Querendo passar por grandes coisas,
acabamos sendo pequenos, medíocres e pobres de espírito. Nada a ver com o mundo
das letras, não acha?
A propósito, no
artigo de ontem , Danuza tentou
consertar a bobagem, mas a emenda ficou pior que o soneto, portanto amigo
livreiro, antes que alguém da sua equipe cometa uma gafe parecida, que tal ter
uma conversa com todos e preparará-los para evitar que isto aconteça?
4 comentários:
Tire o seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor. ( frase do livro Desaforismos de Georges Najjar Jr )
Me faz lembrar um dos posts mais lidos e compartilhados do meu blog: "Preconceito literário: aqui não!" - http://nomundoeditorial.blogspot.com.br/2012/05/preconceito-literario-aqui-nao.html
Excelente! não tinha lido sue post, já tratei de corrigir para não perder suas atualizações e fiz minha inscrição no seu blog.
Considero muito nocivo este comportamento de gente que se julga "mais preparada" que os outros, especialmente quando estas pessoas são as que estão na linha de frente do mercado e podem definir de forma séria o interesse de um novo leitor voltar ou não à por os pés numa livraria novamente.
Ótima postagem.
Esse tipo de preconceito, tanto elitista quanto literária deve ser totalmente desencorajada. Apesar de sermos diferentes, temos os mesmos direitos.
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