Infelizmente poucas pessoas no mercado editorial compreendem
a real importância da Lei do Vale-Cultura sancionada hoje pela presidenta
Dilma.
Parada nas gavetas do Congresso desde 2009, a interlocução
da Ministra Marta Suplicy foi fundamental para conseguir junto aos deputados as
alterações necessárias para que fosse apreciada e finalmente sancionada nesta
última semana de Dezembro.
Mas o que é o Vale Cultura? Se você ainda não conhece o
projeto clique
aqui para saber mais detalhes
Resumindo o projeto prevê conceder R$ 50,00 por mês aos
trabalhadores contratados pela CLT que
ganham até cinco salários mínimos. Quem recebe acima de cinco salários mínimos
poderá ter acesso ao vale-cultura reduzido entre 20% e 90%, dependendo da
regulamentação da lei. Este valor deverá ser utilizado apenas para aquisição de
produtos ou serviços culturais. Ou seja, Ingresso de Teatro ou Cinema ou na
compra de CDs, DVDs, Revistas e... Livros.
Os primeiros cálculos feitos dois anos atrás estimavam o
ingresso de R$ 7,5 bi no mercado de Cultura, um volume muito maior que o
dedicado à Lei Rouanet anualmente. Sobre esta relação entre as funções do
Vale-Cultura e a lei de incentivos culturais, sugiro ler a entrevista da Ministra
da Cultura ao Jornal 247.
Galeno Amorim, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, tem
sempre insistido nos eventos em que participa junto às entidades de classe do
mercado que das categorias de produtos relacionados ao mercado cultural, talvez
a cadeia mais despreparada para atender estes novos consumidores que surgirão
com um novíssimo poder de compra é a cadeia produtiva do livro.
Uma das prerrogativas da criação dos Editais de Livros de
Baixo Preço além do estímulo à redução dos preços de capas de livros para
atender este novo consumidor, era avaliar de forma mais próxima a real
capacidade do mercado em atingir pontos que hoje não dispõe de livrarias.
Expandir o alcance da distribuição de livros é fundamental para que o
beneficiado com estes R$ 50,00 se decida pela aquisição de um livro ao invés de
escolher as outras opções. E estas outras opções dispõem hoje de um alto apelo
de consumo, graças aos grandes investimentos em marketing que estes “concorrentes” culturais do Livro
podem fazer e que apenas pouquíssimas obras podem se dar ao luxo sequer de sonhar.
Baseado em dados parciais e nas observações feitas pelos
livreiros que aderiram com boa vontade à primeira fase do programa, verificamos
deficiências logísticas nesta cadeia que podem nos deixar para trás na corrida
por transformar estes novos consumidores também em novos leitores.
A
Folha de São Paulo trouxe hoje uma matéria onde estima que o valor
destinado ao Vale-Cultura já perdeu 17% do seu valor de compra no período em
que ficou trancado nas gavetas do Congresso. Embora a conta esteja
matematicamente correta, está conceitualmente errada. A aprovação da Lei é motivo de comemoração sim, mas quem desejar atrair este público para suas produções precisará pensar
diferente na hora de precifica-las. O
valor que os atuais consumidores de cultura se dispõem à pagar para este tipo de consumo não será o mesmo que este novo consumidor aceitará pagar. No que diz
respeito ao nosso querido produto Livro, as editoras terão que rever suas
planilhas de custos para poderem obter uma boa parte deste bolo. O preço do
livro no Brasil é muito alto, não tentem contradizer, é caro sim, e por vários motivos já discutidos aqui
neste blog, mas é principalmente caro para cobrir o custo da ineficiência operacional
do mercado.
Parte desta ineficiência é culpa do modelo de consignação que
faz com que a editora financie toda a cadeia sem saber, se e quando as
livrarias vão reportar a realidade das vendas, portanto aumentam o preço de
capa para compensar a ausência de uma expectativa de retorno de investimento.
Outra parte também muito importante é na
falta de automação dos processos logísticos nas editoras que tem gestão de
estoques muito rudimentares o que exige aumento nos quadros para que as
operações atendam (mal) as demandas e na falta de integração tecnológica entre os processos de
reposição das livrarias e os departamentos comerciais das editoras. Na maior
parte das editoras suas áreas comerciais parecem que não saíram dos anos 90,
usam ainda as mesas práticas de quando a consignação começou a ser disseminada, realizam dezenas de operações manuais que
exige uma equipe maior do que normalmente precisaria e não possuem cultura de
análises de resultados para otimizar suas ações.
Hoje é muito mais cômodo vender 500 livros de R$ 59,90 do
que 2.000 de R$ 19,90. Mas com a vinda do Vale-Cultura, podemos estar falando
de vender 10.000 exemplares de um livro de R$ 9,90. Quem já vende livros no
Catálogo da Avon sabe do que estou falando.
O Vale-Cultura só deverá ter sua distribuição iniciada no
segundo semestre de 2013. No próximo ano os editores também terão o auxílio
luxuoso do BookScan, que finalmente chegará ao Brasil, fornecendo pesquisas
reais de vendas do mercado para apoiar suas tomadas decisões sobre tiragens de edições e reedições com
muito mais racionalidade do que hoje.
A editora que usar o primeiro semestre para arrumar a casa, fizer bem as contas para elaborar melhor seus
preços de capa e resolver seus problemas de gestão de estoques e distribuição,
terá muito mais motivos para celebrar no final do ano que irá começar daqui uns
dias, do que as outras que ficarem fazendo mais do mesmo .
Vale-Cultura.
Vale a pena pensar e repensar sua empresa sobre este
assunto.
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