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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Desafios de ser livreiro


Se engana quem pensa que somente os livreiros brasileiros se defrontam com encruzilhadas e labirintos. Evidente que quando comparamos o hábito de compra de livros pela população brasileira com o de outros países, normalmente somos acometidos mais uma vez pelo complexo de vira lata.

Mas na Europa com a crise instalada ( e ampliando-se) as livrarias estão vendo seus compradores fugindo das prateleiras e vitrines.

O livro digital ainda não é o grande vilão pelas quedas de vendas no varejo, embora todos saibam que em algum momento ele ocupará este papel, mas neste momento os dois maiores causadores desta situação crítica que se encontra o varejo de livros na Europa estão na própria natureza do negócio do livro.

Em um artigo muito elucidativo e instigante Manuel Gil  apresenta em seu Blog estas causas e faz uma fotografia preocupante do mercado de livros espanhol num texto entitulado "La Zona Cero de la Crisis de las Librerias". Clique aqui para ler o artigo completo

Como poderá ler, há muitas semelhanças na situação das livrarias espanholas com as brasileiras, mas há também algumas diferenças que, talvez nós no Brasil, não estejamos tirando o melhor proveito possível

Manuel Gil argumenta que os principais motivos da insustentabilidade do negócio livreiro advém primeiro de uma descomunal superprodução de livros e do encurtamento do ciclo de vida destes títulos. Neste ponto, temos aqui uma situação idêntica. É impressionante como somos capazes de produzir muito mais livros do que há espaços de venda disponíveis. Já ouvi este fenômeno ser batizado de "A Ditadura das Prateleiras", mas talvez tenhamos que readequar esta nomenclatura para a " A Miopia das Editorias".

A falta de elementos estatísticos para que decisões de publicação sejam melhor embasadas, faz com que as editoras arrisquem perigosamente seus recursos produzindo livros constantemente sem muita convicção de qual vai ser a recepção que estes títulos terão no mercado e mesmo quando estes encontram seu público, são literalmente empurrados para os locais menos nobres das livrarias rapidamente, para que seja dado espaço para a infinidade de novos livros que chegam diariamente. Aqui estamos muito parecidos, para conhecer melhor este problema, recomendo a leitura de " Livros Demais" da Editora Summus, escrito por Manuel Zaid e traduzido por Felipe Lindoso que, embora lançado há 6 anos, continua atualíssimo nas questões discutidas.

O segundo ponto apresentado pelo autor, a queda de margem de venda já não é tão determinante no Brasil. Embora tenhamos ainda uma batalha de preços nos livros de maior giro, realizadas principalmente pelas livrarias on line e por algumas redes de livrarias, neste ponto o livreiro brasileiro esta em melhor posição que o espanhol. O desconto sobre preço de capa para os livreiros de lá está em torno de 30%, enquanto que no Brasil, no chamado livro Trade, mesmo para livrarias de pequeno porte o desconto gira em torno de 40%. 

Interessante também que o autor cita que em anos recentes uma forte politica de aquisição de acervos e formação de bibliotecas havia sido uma tábua de salvação para muitas livrarias, mas agora diante da crise, mesmo estas instituições acadêmicas perderam seus provedores de recursos e as livrarias temem não receber se vierem à fazer novas vendas.

Mais um ponto em que a situação brasileira é bem diversa.

É indiscutível que os desafios do livreiro brasileiro independente são muitos, mas não podemos deixar de ver que nossas oportunidades hoje são maiores que as de antes e podemos acreditar que estamos numa situação mais atraente que os livreiros dos países com muito mais tradição no comércio de livros.



Recentemente recebemos aqui no Brasil uma delegação de editores britânicos, quando ele conheceram o projeto conduzido pela Biblioteca Nacional para o barateamento do preço do livro e apoio às livrarias para que fossem os fornecedores das compras de bibliotecas públicas, um dos comentários feitos por alguns deles foi que deveríamos ir a Inglaterra para aprender o que não deveríamos fazer no que diz respeito à permissão de politicas monopolistas para o livro digital e em especial, não permitir que as livrarias independentes fossem desmanteladas.


Ainda há muito o que fazer, em especial na profissionalização do nosso mercado, mas não abrir os olhos e ver as oportunidades e usá-las à nosso favor é dar espaço para que empresas que olham com lentes de aumento para seus investimentos tirem proveito da situação.

Lembra-se do Mr Magoo, aquele velhinho simpático, completamente míope que não usava óculos e se metia em um monte de enrascadas mas se saia bem em todas? Então, era só um desenho animado, na vida real quem não enxerga aonde vai, cai do andaime...

Um comentário:

Vania Lacerda disse...

De fato, produzem-se muito mais livros do que se consegue vender. Confesso que é um enigma pra mim o modelo de negócio das editoras. Há quem lance mais de 50 titulos novos por mes. Obviamente, a livraria não consegue nem conhecer todos eles, quanto mais vende-los. Na prática, os livros novos vão "canibalizando" os mais antigos. Se o livreiro não ficar bem atento, acaba tendo apenas novidades em suas bancadas.