Seria importante a partir deste crime absurdo ocorrido no Supermercado Extra no Rio
de Janeiro que tirou a vida de Pedro Gonzaga,
um jovem de 19 anos, que os varejistas se dedicassem a rever todas suas
politicas de segurança e controle de perdas, como preferem chamar alguns
lojistas.
Culpar apenas o agente de segurança, Davi Ricardo Moreira Amâncio,
é muito fácil para todos. O erro, o crime começa a ser cometido muito antes.
Crimes como esses são cometidos na hora que um executivo decide reduzir ainda
mais os custos operacionais, contratando empresas que não fazem uma triagem
rigorosa de seus contratados. Quem lida com este tipo de trabalho vive sempre
em estado de alerta. Uma pessoa que tenha um mínimo de tendência para perder equilíbrio,
vivendo este clima se torna uma bomba relógio pronto para explodir e gerar uma
tragédia como essas.
Vou contar um caso pessoal, agora que a Fnac já não existe
mais no Brasil posso relatar de forma bem transparente. Ao chegar no Brasil e
adquirir a varejista brasileira Ática Shopping Cultural, o Grupo francês
substituiu vários prestadores de serviços que atuavam na empresa. Isso é
natural. O mesmo se passou com a empresa de segurança. Eu, como Diretor de Loja
participei do processo de avaliações das novas empresas contatadas. A escolhida
pelo Direção Internacional, que possuía entre seus representantes um executivo
também de origem francesa nunca havia feito segurança em uma empresa de varejo.
Só tinha experiencia em bancos e empresas que não realizavam comércio de itens
com porta aberta ao público.
Devido às relações amistosas entre Direção Internacional e o
executivo da empresa de segurança (sim, empresas estrangeiras também gostam de
jeitinho, não é só brasileiro não) optou-se por esta, mesmo com minha opinião
em sentido contrário.
Quem já trabalhou em varejos de grandes superfícies, em
especial com produtos de alto valor e pequeno tamanho, sabe que no mínimo umas
duas ocorrências de tentativas de furtos e outras coisas acontecerão no seu dia
de trabalho. É uma constante. Todos os dias haverá alguém sendo pego tentando
roubar, agredir um funcionário ou qualquer outra coisa que faria qualquer
pessoa que nunca teve convivência com coisas do gênero a ter índices de stress
bem acima do normal. Como a empresa
escolhida não tinha nenhuma experiência nesses casos, vivi dias de terror com
abordagens precipitadas, constrangimentos e erros despropositados nesse tipo de
atuação.
Os erros da equipe começaram com os executivos da empresa
que não se atentaram para o óbvio. Esse
mundo pavoroso que vivemos em que tudo se traduz em números na planilha de DRE
e a dignidade humana e o respeito pelos funcionários ficam em segundo plano
gera tragédias como essa. Esse caso só veio à tona porque seu desfecho foi o
maior dos absurdos possíveis, mas todos dias, em possivelmente todos os estabelecimentos
do país, um jovem negro, pobre, será submetido a algum constrangimento, possivelmente
até agredido fisicamente.
Lamento dizer, mas até que os prejuízos por ser responsabilizado
por estes crimes diários seja maior do que alguns pontos percentuais numa
planilha de DRE, esta realidade não será alterada.
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