Analytics

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quais são os aprendizados após 23ª Convenção da ANL

Na semana passada a ANL reuniu livreiros representando todo o Brasil para sua convenção anual e trouxe uma pauta bem interessante de assuntos para serem abordados durantes os dois dias do encontro.

Não tenho dados históricos, mas creio que esta edição foi uma das que obteve uma das audiências mais representativas no que diz respeito às regiões brasileiras.  O PublishNews fez uma boa matéria mostrando a origem dos participantes da mesa Cenário Atual das Livrarias de Norte a Sul, portanto não vou repetir aqui o tema, recomendo que clique no link para acessar o conteúdo do artigo.

Entre as  várias preocupações apresentadas pelos livreiros durante os debates, uma que ganhou muita evidência foi o acirramento dos descontos ofertados pelo mercado, em muitos casos originados por promoções das editoras em ações conjuntas com algumas poucas livrarias, o que evidentemente constrange o esforço dos pequenos livreiros para manter suas clientelas, já que estas não podem usar dos mesmos recursos para atrair ou manter seus consumidores.

Muitas vezes a Lei do Preço Fixo, ou qualquer outro nome que deem a ela, foi citada como solução para os desafios que os livreiros ainda devem enfrentar. Ao meu ver há outros pontos urgentes que as livrarias precisam se concentrar, que são tão agressores quanto a questão dos descontos ou até mais.

Digo isso porque uma legislação brasileira para defesa das livrarias se vier a existir um dia, deverá seguir um modelo semelhante aos países onde já está implantada.  Nestes países o máximo de tempo que um livro fica proibido de ser ofertado com descontos maiores que 5%, por exemplo, é de 18 meses. Um ano e meio.

De acordo com dados do Bookscan, que eu estava junto com a Nielsen Brasil apresentando durante a Convenção e a Bienal, os maiores índices de descontos estão apresentados nos títulos que estão acima da linha dos mil mais vendidos. Quando mais bem posicionados no ranking de vendas, menores são os descontos médios apresentados pelo estudo.

Alguns livreiros se surpreenderam com os números do gráfico abaixo, pois eles sabem que há muitas lojas dando descontos superiores a estes. O que ocorre é que quem vende muitos exemplares não está praticando grandes descontos, quem está sacrificando muito a margem, não é o maior vendedor destes produtos. Mas em compensação os livros com descontos mais agressivos são na verdade itens de fundo de catálogo, que em tese estariam liberados pelo modelo proposto de regulação de preço, ou seja, uma legislação para proteção das livrarias, sozinha, não vai ajudar a resolver o problema.

Diferente de outros países que já empregam este mecanismo de defesa, os livreiros brasileiros não contam com a qualidade e nível de serviço apropriado oferecido pelas editoras e distribuidoras. Sem uma atuação firme destes varejos para que editoras e distribuidoras atendam suas demandas diárias de forma competente e profissional, nossas livrarias vão continuar perdendo seus clientes para a ineficiência crônica que assola nosso mercado no que diz respeito aos processos logísticos e informações sistêmicas.  

Acredito que a ANL poderia atuar de maneira mais contundente neste caso, as livrarias não podem se conformar com esta situação que beira ao descaso. Avaliar continuada e constantemente a qualidade deste atendimento, de forma pública e publicada, faria com que o mercado como um todo se preocupasse com estes indicadores.  Muitas vezes os proprietários e a alta direção das editoras não sabem quão ruim é seu atendimento ao livreiro, se o nome de sua empresa for parar no “SERASA” da qualidade de atendimento das livrarias, com certeza a preocupação com o assunto será outra.

Se confirmar a informação publicada pela imprensa que a Amazon começará a vender livros impressos no Brasil em 2014, com certeza a empresa americana trará para o Brasil a qualidade e o rigor profissional em seus processos que caracteriza a história da empresa. Com seu poder de compras ela terá condições de exigir que seus prazos e processos sejam corretamente atendidos pelos seus fornecedores. Neste caso, aqueles atendimentos de encomendas de livros de fundo de catálogo das editoras que levam nossos leitores em busca das livrarias físicas que se preocupam em ter um acervo maior que a lista de mais vendidos, com certeza serão atraídos por quem oferecer o melhor serviço.

E as pequenas livrarias? Vamos para a convenção do ano que vem chorar pelos descontos derramados novamente?

Ou criamos uma agenda propositiva que instrumentalize os associados a melhorar sua gestão e seus processos ou não teremos muitos livreiros para participar dos debates que antecederão a Bienal de SP no ano que vem.


Nenhum comentário: