Não tenho dados históricos, mas creio que esta edição foi
uma das que obteve uma das audiências mais representativas no que diz respeito
às regiões brasileiras. O PublishNews
fez uma boa matéria mostrando a origem dos participantes da mesa Cenário Atual das Livrarias de Norte a Sul, portanto não vou repetir aqui o tema, recomendo
que clique no link para acessar o conteúdo do artigo.
Entre as várias preocupações apresentadas pelos livreiros
durante os debates, uma que ganhou muita evidência foi o acirramento dos descontos ofertados pelo mercado, em muitos casos originados por promoções das
editoras em ações conjuntas com algumas poucas livrarias, o que evidentemente constrange o esforço
dos pequenos livreiros para manter suas clientelas, já que estas não podem usar
dos mesmos recursos para atrair ou manter seus consumidores.
Muitas vezes a Lei do Preço Fixo, ou qualquer outro nome que
deem a ela, foi citada como solução para os desafios que os livreiros ainda
devem enfrentar. Ao meu ver há outros pontos urgentes que as livrarias precisam
se concentrar, que são tão agressores quanto a questão dos descontos ou até
mais.
Digo isso porque uma legislação brasileira para defesa das
livrarias se vier a existir um dia, deverá seguir um modelo semelhante aos países
onde já está implantada. Nestes países o
máximo de tempo que um livro fica proibido de ser ofertado com descontos maiores
que 5%, por exemplo, é de 18 meses. Um ano e meio.
De acordo com dados do Bookscan, que eu estava junto com a
Nielsen Brasil apresentando durante a Convenção e a Bienal, os maiores índices
de descontos estão apresentados nos títulos que estão acima da linha dos mil
mais vendidos. Quando mais bem posicionados no ranking de vendas, menores são
os descontos médios apresentados pelo estudo.
Alguns livreiros se surpreenderam com os números do gráfico
abaixo, pois eles sabem que há muitas lojas dando descontos superiores a estes.
O que ocorre é que quem vende muitos exemplares não está praticando grandes
descontos, quem está sacrificando muito a margem, não é o maior vendedor destes
produtos. Mas em compensação os livros com descontos mais agressivos são na
verdade itens de fundo de catálogo, que em tese estariam liberados pelo modelo
proposto de regulação de preço, ou seja, uma legislação para proteção das
livrarias, sozinha, não vai ajudar a resolver o problema.
Diferente de outros países que já empregam este mecanismo de defesa, os
livreiros brasileiros não contam com a qualidade e nível
de serviço apropriado oferecido pelas editoras e distribuidoras. Sem uma atuação firme
destes varejos para que editoras e distribuidoras atendam suas demandas diárias
de forma competente e profissional, nossas livrarias vão continuar perdendo
seus clientes para a ineficiência crônica que assola nosso mercado no que diz
respeito aos processos logísticos e informações sistêmicas.
Acredito que a ANL poderia atuar de
maneira mais contundente neste caso, as livrarias não podem se conformar com
esta situação que beira ao descaso. Avaliar continuada e constantemente a
qualidade deste atendimento, de forma pública e publicada, faria com que o
mercado como um todo se preocupasse com estes indicadores. Muitas vezes os proprietários e a alta
direção das editoras não sabem quão ruim é seu atendimento ao livreiro, se o
nome de sua empresa for parar no “SERASA” da qualidade de atendimento das
livrarias, com certeza a preocupação com o assunto será outra.
Se confirmar a informação publicada pela imprensa que a
Amazon começará a vender livros impressos no Brasil em 2014, com certeza a
empresa americana trará para o Brasil a qualidade e o rigor profissional em
seus processos que caracteriza a história da empresa. Com seu poder de compras
ela terá condições de exigir que seus prazos e processos sejam corretamente
atendidos pelos seus fornecedores. Neste caso, aqueles atendimentos de encomendas de livros de fundo de catálogo das editoras que levam nossos leitores em busca das livrarias físicas que se preocupam em ter um acervo maior que a lista de mais vendidos, com certeza serão atraídos por quem oferecer o melhor serviço.
E as pequenas livrarias? Vamos para a convenção do ano que
vem chorar pelos descontos derramados novamente?
Ou criamos uma agenda propositiva que instrumentalize os
associados a melhorar sua gestão e seus processos ou não teremos muitos livreiros para participar dos debates que antecederão a Bienal de SP no ano que vem.
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