Lógico que o assunto do dia é a possível negociação de compra da Saraiva pela Amazon. Apesar de não ser assunto novo, desta vez os rumores ficaram tão altos que não dá pra ignorar o barulho.
Entre os fatores para desconfiar da história está
o fato de que a Amazon não possui lojas físicas em nenhum país que se instalou,
decidir-se por essa estratégia em um país que nem mesmo implantou-se
convincentemente com o digital, não parece ser o modus operandi tradicional da
gigante americana e como todos sabemos, o Brasil apesar de seu imenso potencial
não é exatamente um país fácil de entender e implantar práticas bem sucedidas
em outros países, esta aí a Fnac que do seu plano de abrir 20 lojas em cinco
anos não está nem perto deste número depois de 14 anos de atividade em terras
tropicais.
Por outro lado, quando falamos em modelo tradicional para
uma companhia como a Amazon, isto soa estranho, porque se há algo que
caracteriza a história da empresa é a sua capacidade de criar e recriar
práticas, políticas e processos. Se existe alguém do qual podemos esperar o
inesperado, esta pessoa atende pelo nome de Jeff Bezos.
Mas e se for verdade? E se algo assim acontecesse?
Na média as compras da Livraria Saraiva representam entre 10
a 20% das vendas das editoras brasileiras, umas mais outras menos dependendo da
sua capacidade de distribuição. Mesmo quem tem menor dependência da rede,
deveria imediatamente reposicionar sua estratégia de distribuição. É
mundialmente conhecida a fama da Amazon de praticar negociações altamente
agressivas nas suas aquisições, o que faria apertar ainda mais as margens que
as editoras ainda conseguem obter, isso ao falarmos dos livros impressos.
Quando falamos do livro digital a situação pode atingir níveis muito
preocupantes.
A Amazon construiu seu império através de uma estratégia de
asfixia de seus concorrentes, seja pela sua indiscutível competência tecnológica
e logística, mas também por uma filosofia de derrotar seus concorrentes ao
praticar preços muito abaixo do mercado. Se por um lado o consumidor sai
ganhando num primeiro momento, porque tem um serviço mais confiável com menor
custo, no momento seguinte o consumidor será prejudicado, pois o mercado se
enfraquece absurdamente ao permitir que uma única empresa seja responsável pela
fatia mais expressiva dos negócios, com margens reduzidíssimas e ainda por cima
sendo responsável pelo fechamento de outros pontos de vendas que permitiam anteriormente
equilibrar os custos, e passo a passo esta única empresa pode simplesmente “determinar”
o que vai ou não ser publicado, porque sozinha tem condições de interferir nos
investimentos das editoras. Falando em inesperado, já pensou se a Amazon decidisse por retomar o processo de aquisição por compra firme e não usasse mais o modelo consignado? Seria muita tentação para editora não sucumbir...
Em todos os países que a Amazon se instalou, este processo aconteceu,
mas diferente do que pode acontecer se esta compra de fato se concretizar é que
não haveria um concorrente forte o bastante para fazer frente ao império de
Seatle.
Para as livrarias então, os desafios são ainda maiores, pois
se já não era fácil competir com as grandes redes e as empresas de e-commerce
de livros, enfrentar a concorrência de um player com o perfil da Amazon irá
exigir muita criatividade. Quem mais vai sofrer é quem não tem ainda nenhuma
estratégia com e-commerce ou alguma perspectiva de receita com o livro digital
para os próximos dois anos.
Se as editoras conseguirem reconstruir suas relações de
força para não se tornarem uma marionete nas mãos da gigante americana, há
muita coisa positiva que pode advir desta transação também, porque haveria
também uma pressão pela qualificação e padronização dos processos das empresas,
que se estendidos para os demais compradores do mercado, poderíamos começar a
converter em vendas os desperdícios diários cometidos pela negligência dos serviços
prestados atualmente. Leia sobre este assunto no post “Ignorar
a Logística ou a Arte de Jogar Dinheiro Fora”
Porque na verdade as pequenas livrarias tem que concorrer
com os grandes varejistas, mas também padecem enormemente para realizar suas
aquisições do dia a dia, isto tudo porque as editoras e distribuidoras em
geral, oferecem um nível de serviço abaixo de nota.
Eu acho que o simples fato de se noticiar uma intenção de uma
aquisição destas, deveria fazer com que cada empresa chamasse sua equipe para
debater o seguinte tem "O que faríamos a partir de agora, se esta notícia
fosse real"?
E se não fim das contas, isso não acontecer, já que tiveram boas idéias, por que não coloca-las
em prática?
Nada como uma situação de stress para
descobrirmos como podemos ser criativos.
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