Na semana passada o jornal O Globo comentou a noticia
divulgada pelo jornal britânico Financial Times sobre o crescimento das vendas
de livros impressos em UK, Austrália e nos Estados Unidos. Passados os impactos iniciais da notícia, uma
leitura mais atenta pode nos dar alguns elementos para ampliarmos nossa fé no
livro tal como o conhecemos há 500 anos, caso alguém aqui a tivesse perdido. Recomendo a leitura na fonte, no site do Financial Times clicando
aqui, apesar de ser fechado para assinantes o veículo possui um plano para
acessar 3 matérias de graça por mês, nesse caso vale a pena investir 2 minutos
e preencher os dados.
Primeiro detalhe, os dados foram fornecidos diretamente
pelas livrarias. No caso da gigante britânica Waterstones esta afirma ter
crescido 5% no último mês sobre as vendas dezembro de 2013. A rede Foyles, sua
concorrente, mas de muito menor tamanho, anuncia um crescimento ainda maior, 8%
no mesmo período. Do outro lado do oceano, a rede americana Barnes & Noble apresenta
um crescimento também de 5%. Ainda não estamos falando de uma tendência de
mercado, mas de uma perspectiva mais otimista ou menos pessimista, como
preferir, para as grandes livrarias que vem fazendo investimentos na diversificação de seus mix de vendas e que fizeram planos de reestruturação de seus negócios. No caso da B&N vale lembrar que no ano de 2014 ela fechou várias lojas, seria ótimo saber se este crescimento foi em valores absolutos, somando todas as lojas abertas em 2013 versus as que permaneceram em 2014, ou se apenas nas lojas preservadas se indetificou este crescimento. Pelo sim pelo não, eu diria que mesmo a segunda opção é alvissareira, a primeira seria espetacular.
Ainda em setembro de 2014 o mesmo jornal publicou uma
matéria em que apresentava o declínio da venda dos e-readers, clique
aqui para acessar, é natural que este consumo se dê em menor escala que a
venda dos e-books, mas para atingir a expectativa que a consultoria internacional
PwC apresentou em 2011 que em 2015 o
formato digital superaria o impresso, as vendas destes dispositivos precisariam
fazer uma curva no sentido contrário da apresentada aqui no gráfico extraído da
mesma matéria.
Alguns futurólogos achavam que o mercado do livro seria
divido em meio a meio para suas versões impressas e digitais, com a reversão
das tendências já estão atualizando suas previsões para 60/40, em favor dos
livros impressos.
Detalhe importante da matéria do FT é adoção de estratégias
diferenciadas das editoras para suas publicações impressas e digitais, de acordo com o perfil
do público. Público mais propenso à gastar com livros tem sido brindados com edições
mais sofisticadas enquanto que livros de grande consumo, mais sensíveis aos
preços, tem suas edições cada vez mais simplificadas.
Mas voltando ao título deste post, considero importante esta
noticia porque para mim demonstra algo que já discutimos algumas vezes. A
ascenção meteórica do livro digital nesses países se deu durante o ápice da
crise econômica iniciada em 2008 e agora que gradualmente estes países vão se
recuperando, o consumo do livro impresso recupera suas energias, muito embora
ainda esteja longe de retomar o mesmo patamar dos primeiros anos do século 21,
o que acredito não irá acontecer. O livro digital veio para ocupar um espaço
certo, disto não podemos ter dúvidas, mas o tamanho dele não deverá ser muito
maior do que já é hoje, algo entre 20 e 25%, onde se mantém há pelos menos 3
anos.
Mas outro aspecto importante diz respeito à tendência de
investimentos. Lidando nos bastidores da nossa indústria já ouvimos muita gente
dizendo que não faria investimentos no mercado por este ser um ramo que iria
desaparecer ao longo dos anos.
Todos nós conhecemos várias histórias de investimentos
feitos em empresas de livros digitais que jamais irão atingir break-even, isso
para não falarmos de retorno do investimento, o que ai seria maldade pura. Com
esta freada, o discurso da inviabilidade do livro impresso, que já não se sustentava, agora perde o apelo emocional das matérias sensacionalistas e os
investidores deveriam sim estar olhando para o mercado editorial como uma opção
viável de negócios por muitos anos ainda.
O que todo mundo sabe (e poucos comentam) é que o
crescimento vertiginoso das vendas de e-books só privilegiaria os grandes
players internacionais deste mercado, Google, Apple e Amazon principalmente.
Para as editoras este crescimento súbito significaria uma dependência extremamente perigosa
de poucos clientes com um poder de negociação sem precedentes.
Para as livrarias físicas,
mesmo as que já exploram as vendas de e-books em suas lojas digitais,
implicaria numa concorrência absurdamente ainda mais feroz, porque para aqueles
players a venda de livros é apenas um detalhe, enquanto para livreiros, o livro
é o coração do negócio. Aqui não cabe nem falar dos distribuidores
tradicionais, porque estes sim estão totalmente alijados do mercado digital.
A meu ver, a noticia mais importante desta matéria é que há
sim alternativas para as livrarias de tijolos e cimento e que ainda há muita água para passar debaixo destas pontes, de forma que todos possam calibrar suas decisões de forma ponderada e racional, escapando dos malefícios do efeito manada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário