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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Como a Borders quebrou.

Ainda sobre a falência da Borders, encontrei no site Publishing Perspectives excelente artigo de seu editor chefe, Edward Nawotka um dos palestrantes do 2º Congresso do Livro Digital que acontecerá na semana que vem em São Paulo, mostrando como erros de gestão e do entendimento do produto livro, cavaram o buraco em que a rede americana de livrarias se enterrou. Para ajudar, me atrevi a traduzir o texto, mas se preferir ler no original, clique aqui para ir ao site. Vale a pena ver se não estamos cometendo erros semelhantes nas nossas empresas.

Decisões ruins, sorte ainda pior. Como a Borders quebrou.

Por Edward Nawotka

Como todos sabem agora, a rede de livrarias Borders esta sendo liquidada. Centenas de lojas estão sendo fechadas e mais de 10 mil pessoas estão perdendo seus empregos.

Editoras vão sofrer, assim como pessoas das equipes de vendas para as livrarias também poderão perder seus empregos e centenas de milhares de livros indesejados serão despejadas de volta em seus armazéns como devoluções de compras.

Enquanto o desaparecimento da Borders pode eventualmente ser visto como um referendo sobre a viabilidade a longo prazo da capacidade das livrarias competirem contra a digitalização dos livros e os e-books, devemos lembrar que a origem da quebra da Borders aconteceu a uma década, por volta de 2001. Naquela época a companhia tinha mais de 2 mil lojas nos Estados Unidos (360 destas eram superstores), 50 no exterior, e gerou mais de US$ 3 bi em receitas anualmente. Mas uma série de decisões infelizes e uma tragédia comprometeram definitivamente a posição da companhia no mercado.

A primeira foi em Janeiro daquele ano quando Greg Josefowicz, o ex-presidente da Jewel-Ocso, uma divisão da rede Albertson de supermercados e farmácias, acrescentou o título de presidente do Grupo Borders à sua lista de títulos, que já incluía o de presidente e CEO da empresa.

Pode-se tratar livros como suco de laranja e shampoo? Josefowicz parecia pensar que sim e logo implementou uma estratégia polêmica de “gerenciamento de categoria”, um programa que limitaria o número de títulos que estariam à venda para um determinado gênero, fossem livros da gastronomia ou biografias. Não foi tão draconiana como o “pay-to-stay”-norma básica nos supermercados, mas que no entanto foi fortemente criticada por favorecer as grandes editoras em detrimento das pequenas e por adequar a oferta exclusivamente ao gosto da literatura do grande público.

Em seguida, em fevereiro, veio o anúncio de que a Borders eliminaria a posição do coordenador de relações com a comunidade nas lojas individuais, matando assim a mais forte ferramenta para estabelecer a fidelidade entre os leitores locais.

Então, em abril de 2011, a Borders decidiu abrir mão da gestão de seu próprio website e entregou a responsabilidade de sua gestão para a Amazon.com. A miopia desta decisão quando vista em retrospectiva não pode ser ignorada.

Finalmente, em 11 de setembro, a loja da rede com maior receita foi destruída durante os ataques ao World Trade Center, uma perda significativa sob qualquer análise. Sim, a Borders se recuperou e abriu uma reluzente loja nas proximidades alguns anos mais tarde, mas que nunca foi tão amada como a loja do WTC e fechou alguns anos depois.

O que se passou ao longo da década seguinte foi apenas uma longa série de eventos infelizes. Houve um movimento trabalhista entre os empregados da Borders tentado se organizar em sindicatos, chegando a paralisar a loja de Ann Arbor (sede da empresa) em 2003. Demissões atingiram a sede da Borders e o comitê central de gestão começou a se parecer com aqueles carros de palhaço dos circos, onde uma multidão de pessoas entra pela porta da frente com outra fugindo pela porta de trás. O golpe final foi a crise de 2008 que desmontou planos ambiciosos para reinventar a cadeia em uma empresa no “estado da arte” .Uma empresa varejista digitalmente idealizada, muito antes da Barnes & Noble chegar a pensar em fazer a mesma coisa.

Olhando para trás, minha memória mais querida da Borders é a de fazer uma peregrinação na cidade de Ann Arbor em busca de uma cópia do livro "Neuromancer" de Willian Gibson, em 1984 na loja número 1 da rede (eu cresci próximo à Wayne, Michigan) Todas as crianças descoladas do meu bairro estavam lendo o livro e a Borders foi o melhor lugar para comprá-lo (e pegar alguns módulos de “Dungeons & Dragons” na loja de jogos ao lado. Sim eu era um geek).

Desde então eu passei a gostar de fazer compras em dezenas de lojas da Borders nos Estados Unidos, em pontos tão distantes como Kauaii, Hawaii, San Juan e Porto Rico. Como muitos outros. Eu vou ficar triste de vê-las partir.

Sendo honesto, eu vou sentir mais saudades da Borders porque fazer compras lá estava muito barato. Se você fizesse parte do programa de fidelidade deles você poderia obter descontos de 30-40 até 50% em suas compras. Além disso, eles concediam “Borders Bucks” basicamente um desconto adicional. Se você fosse esperto o suficiente poderia nunca pagar o preço cheio de qualquer coisa.

Às vezes, até o café que eu tomava na cafeteira da loja custava mais caro que os livros que eu comprava. Eu costumava perguntar para minha esposa quando saia da loja com uma montanha de coisas que tinha comprado por uma ninharia, “Como eles podem ainda estar neste negócio?”.

Agora eu sei. Eles não podiam. Quando eu olho para trás, pode parecer estranhamente profético que o primeiro livro que comprei na Borders foi aquele que definiu o início da era digital e nos apresentou a palavra ciberespaço. Ainda assim, quando a administração gostaria de culpar os e-books e os formatos digitais, bem como a economia pelo desaparecimento da Borders, a verdade é que tudo se resume em uma única coisa. Erro humano.

2 comentários:

Horacio Corral disse...

Sou da opinião que a era digital, como alguns chamam, vai provocar mudanças profundas na sociedade isso porque ela muda hábitos e maneiras de interagir com as coisas (lembre da tecnologia Sixth Sense) mas produtos culturais (livros, filmes, música, jogos) sempre terão um jeito de diferente de serem trabalhados. A arte não é uma ciência exata. Não sabemos se um filme ou livro vai dar certo por mais que façamos uma análise profunda de mercado, produto, etc. Nivelar e simplificar a gestão da comercialização de conhecimento e entretenimento é um jeito 'rápido e prático' de começar o fim de um empreendimento nesse tipo de mercado.

Ala Voloshyn disse...

Muito bom!!