O título desse
post era sempre a mensagem de despedida de minhas conversas com o Edson Honorato. Nossas histórias tinham muitos paralelos, muitas semelhanças e também divergências, mas amigos sabidamente se focam nas primeiras quando podem desfrutar dos poucos momentos que dispomos uns para os outros.
No período que o Edson foi principal executivo de compras das Livrarias Siciliano, muitas foram as vezes em que negociamos ferozmente vantagens para suas respectivas empresas, cada um para seu lado. E todos acordos comerciais que fiz com ele, foram totalmente honrados, coisas que hoje em dia deixa-se muito a desejar. Como comprador da então maior rede de livrarias do país seu poder de fogo era muito grande, sei de gente que se borrava todo para negociar com ele. Um vendedor de livros precisava ter mais do que um bom título, mas muita fibra e tenacidade para conquistar espaço nas prateleiras da antiga rede.
Quando o conheci, a Siciliano ainda ficava na Alameda Dino Bueno no bairro do Bom Retiro, ainda não existia a cracolândia, mas os cortiços em volta já deixavam o lugar bem barra pesada. Eu, recém contratado como vendedor pela Cia das Letras não tinha carro e para chegar naquele canto da cidade descia no metro Santa Cecília e ia a pé até la. E um bom vendedor não deixaria de ir ao maior cliente nem que chovesse canivetes, o que acontecia com alguma regularidade, o que fez muito mais de uma vez chegar igual um pinto molhado na área de descarga das entregas de livros, onde ficava o departamento de compras da Siciliano naquela época, onde ele dividia a função com o velho Laércio, que já nos deixou há tanto tempo. O Edson, que já tinha sido vendedor de máquinas de costura Singer nas feiras de rua, teve que ralar muito por conta própria e valorizava quem tinha a mesma natureza. Isso nos aproximou.
Quando ele saiu da Siciliano após a aquisição pela Saraiva montou uma livraria com outros amigos ex Siciliano e após o fechamento deste empreendimento atuou como consultor para muitas empresas, entre elas a Editora Novo Século e a Madras.
Quem me conhece sabe que tenho hábito de cumprimentar as pessoas com quem mantive contato mais próximo no dia seu aniversário, sempre com uma ligação direta, não pelo
Facebook, nem mensagem de
WhatsApp. Ligo para ouvir a voz e dedicar 3, 4 minutos a uma boa conversa fiada e sentimento sinceros de felicidade e saúde, adquiri esse hábito com minha mãe, que o faz até hoje apenas com a memória, eu mais preguiçoso me valho da agenda do Outlook que me garante para todos os anos a renovação da minha cortesia. Com o Edson eu tinha ainda a preocupação adicional porque muita gente o adulava quando tinha o poder de decisão sobre aquisições da sua empresa, depois que ele perdeu esse poder muita gente simplesmente virou as costas o que fazia ficar muito chateado, porque apesar do jeito de durão, o homem era um coração de manteiga.
Por algum motivo eu agendei o aniversário do Edson um dia antes do seu aniversário de fato e sempre que eu ligava para ele ríamos porque não era o seu dia, o que fazia com que eu ligasse no dia seguinte apenas para continuar a gozação.
Quando montei um curso sobre Como Montar Uma Livraria, fiz questão de ter um depoimento dele para poder dar-lhe os créditos de boas conversas que sempre tivemos sobre nosso principal assunto e assim também poder indicar o trabalho dele como consultor, esta foto faz parte de um dos 12 vídeos que disponibilizei sobre o tema.
É meu amigo, vou terminar esse nosso papo mais uma vez como sempre, imaginado mesmo que agora você esteja com Ele.
Fique em paz, irmão